domingo, 26 de dezembro de 2010

Quarta e quinta página do meu livro

Parei pro lanche de quinze minutos, onde na verdade foi de menos porque eu não queria manter meus pensamentos ligados a aquele ser. Então, para poupar meu coração de um aperto quase como uma explosão era melhor eu ocupar minha brilhante mente com coisas que servem pra minha vida como o meu trabalho. Avisei o chefe que eu estava voltando pra minha mesa para adiantar o trabalho. Ele aceitou numa boa. Só falou para não mexer em nada além do meu computador e da minha mesa. Dei uma olhada nas outras notícias, vi entrevistas e outras coisas que uma jornalista me mandou. Salvei várias fotos e montei manchetes e aprimorei meus textos. No fim acabei saindo mais cedo da editora. Meu chefe ficou impressionado comigo e com minha eficiência. Falou que se eu continuasse assim eu iria longe. E ficou falando mais um monte de baboseiras em quanto eu só dava curtos sorrisos de agradecimento. Arrumei minha mesa para o outro dia quando eu chegasse já estivesse bem ajeitada e saí.
Fui tomando um milkchake, aliás, não ter lanchado no meu intervalo me deu fome. Quando suguei a última gota daquele delicioso sorvete quase derretido, o joguei num lixinho que há nas ruas. O tempo estava meio nublado agora. Sem vento e sem sol, claro. Tudo parecia tão silencioso calmo. Era anoitecer em quanto andava rumo à minha casa, eu ouvia os passarinhos que cantavam numa árvore do outro lado da rua. Estava tão calmo que deu vontade de deitar no banco da pracinha e dormir, ficar ali pra sempre. Mas, eu tinha uma luta do esquecimento para vencer e não iria vacilar. Em quanto andava fui olhando ao redor. Percebi grandes e lindas flores firmes no chão. Algumas rosadas, outras mais vermelhas e tinha até azuis. Numa casa com cor verde claro observei um pequeno jardim na frente. As flores eram bem cuidadas e de todas que havia a mais bonita eram as orquídeas. Eram tão variadas quanto às cores. De diversas formas e tamanhos. Lembrei-me dos tempos em que morava numa casa com meus pais antes da faculdade. Nossa casa era simples, mas eu a amava. Sempre cheia de enfeites e de amor. Minha mãe costumava sempre dizer que as flores enchiam o ambiente de paz. Ela também dizia que para afastar os maus pensamentos era só cuidar de uma flor. No nosso jardinzinho mamãe plantava e cuidava das flores. Só que eu sempre soube que suas preferias eram as orquídeas. Atrás de nossa casa havia muitas delas. Era tão prazeroso ver mamãe feliz e bem sucedida. Ela sempre teve sonhos pequenos. Ela apenas queria ter filhos, um marido, uma casa e muitas flores nela. Eu sou a única filha que ela tinha. É engraçado porque ela sempre dizia que logo, logo eu teria irmãozinhos correndo pela casa e bagunçando meu quarto. E eu lhe informava que não os queria. Que preferia ser única mesmo. E agora eu sinto falta de um irmão. Agora, eu gostaria ter uma pessoa próxima pra me apoiar. É claro, que eu tinha. Minha melhor amiga Stephanie. Mas, um parente é diferente. É algo mais próximo. Mias confiante. Só que Stephy quase ocupava aquele espaço. Ela era tão boa, tão compreensiva. Eu a amava muito mesmo. Quando eu estava chorando ela sempre fazia piada do quanto minha cara ficava horrenda quando eu o fazia. Ali andando, senti falta dela. Da grande amiga que fazia umas duas semanas que nem sequer nos falávamos.  Ao chegar ao prédio, o porteiro me reconheceu e abriu a porta pra mim. Nem esperei o elevador. Meu apartamento era no primeiro andar, e subir algumas escadas não me faria nenhuma mal. Subi, subi e subi. Minhas pernas estavam literalmente bambas. Elas tremiam. Sério mesmo! Achei que iria desabar ao chegar ao meu apartamento. Abri a porta com tanto desespero que quase acabei com a fechadura. Entrei rapidamente antes de cair na porta mesmo. Larguei a bolsa em algum canto da sala, nem vi onde. Joguei-me na minha poltrona vermelha. Muito chique. Comprada em uma das lojas mais caras da cidade. Grande, confortável e muito boa. Fechei os olhos e esperei um pouquinho até me recuperar da subida que parecia eterna. Caramba! Eu me sentia muito cansada. Acho que desabei por uns dez minutos. Com muito esforço, levantei e fui até a geladeira. Apoiando-me nas coisas que encontrava, peguei a garrafinha de água gelada e tomei. Quase a garrafa inteira. Só faltou engolir a própria garrafa. Eu deveria estar fraca por não comer no intervalo. Esquecê-lo me custaria muito esforço. Até meu lanche, e talvez, minhas pernas. Sentei novamente na poltrona e liguei a TV. Fitei sem olhá-la. Aquele programa de culinária que estava passando era terrível e mal gravado. Parada feito uma tosca fiquei observando a tela quase sem perceber. Saí de transe e peguei minha pequena agendinha rabiscada que ganhei de Stephy no dia do meu aniversário depois de eu terminar com aquele ser. Quando ela me entregou o presente, me olhou bem nos olhos e sorriu:
-Escute muito bem. Quero essa agenda cheia de nomes, de garotos gatos e bem sucedida, no final do mês. – Eu me lembro que sorri, sem humor, pra não deixá-la magoada.
Peguei a agenda e procurei pela letra “S” e achei. Lá estava o nome e o número daquele ser. Joguei a agenda longe no mesmo instante em que percebi o nome que procurava. Desliguei a televisão e me arrastei até o banheiro. Liguei o chuveiro e deixei a água correr na banheira até enchê-la, enquanto pegava a loção de banho pra acrescentar ao meu “banho de relaxamento”. Deitei-me sobre a água morna e relaxei. Ou melhor, eu estava relaxando até o momento em que alguém ligou e não deixou recado. Fiquei curiosa. Uma onde de nervosismo chocou contra meu coração. E se, por um belo acaso, fosse... Ér... E se fosse aquele ser? Se, por outro lindo acaso, ele quisesse voltar pra mim? Ou melhor, dizer que me ama! Depois do telefonema sem resposta, meu banho relaxante se desmoronou. Balancei a cabeça, lamentando não ter atendido o telefonema, e fui para o quarto afim de por uma roupa e arranjar algo para desocupar minha mente. Baguncei um guarda-roupa a fim de achar uma roupa legal e achei. Adivinha! Meu suéter azul por cima de uma blusa branca com bolinhas também azuis e minha calça jeans que comprei na França, um ano antes daquele ser terminar comigo. Ah, e meu tênis da Nike ficou super fashion com a minha combinação perfeita. Maquiei-me, enganchei meus brincos de pura prata nas minhas orelhas, e o que não podia faltar eram minhas lindas e amáveis pulseiras. Lembrei que havia duas semanas que eu não falava com minha melhor amiga. E sair com ela seria uma ótima ideia. Penteei meus cabelos escuros e molhados e corri pegar a agendinha que estava largada no chão da sala. Procurei pela letra “S” e achei o número de Stephy.

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